quinta-feira, 4 de agosto de 2016


O ENSAIO DA FANFARRA EM GLÓRIA!

Em agosto de 2010 fiz uma viagem nostálgica a Cornélio Procópio, cidade do norte pioneiro paranaense, onde vivi parte da infância e minha adolescência. Fui lá matar saudades, rever lugares, reencontrar amigos e destilar reminiscências.

Naquela oportunidade, optei por viajar de ônibus, para apreciar a paisagem mais atentamente. Tomei um ônibus na cidade em que moro no estado do Rio até o terminal rodoviário Tietê de São Paulo. Embarquei num trem do metrô, para tomar outro ônibus para o Norte do Paraná, no terminal Barra Funda. Quando subia as escadas deste terminal, para acessar os guichês de venda de passagens da saudosa Viação Garcia, deparei-me com um enorme cartaz de propaganda da OI - de uns 3m x 5m. O painel estampava um rapaz ligando para alguém de um celular e na parte inferior, em letras gigantes, a seguinte mensagem: QUEM VIAJA TEM ASSUNTO.

Quem viaja tem assunto - e destila lembranças e revive momentos, acrescento.

Seis anos depois daquela inesquecível viagem ao norte paranaense, chego a Nossa Senhora da Glória, no alto sertão do estado de Sergipe, para participar de mais uma etapa de um projeto do qual estou fazendo parte.

Foto: Marcelo Brandão.

Cheguei no início da noite na cidade, deixei a mala no hotel e saí para almoçar/jantar, pois sobrevivera propositadamente o dia apenas com o café da manhã. Num shopping com o mesmo nome do hotel – Avelan –, situado nas suas proximidades, encontrei uma praça de alimentação. Resolvida a necessidade básica da hierarquia de Maslow, resolvi dar um giro pela cidade, a pé, algo que tenho primado em fazer em minhas viagens, nessa nova etapa da vida (já aposentado, mas ainda procurando contribuir profissionalmente País afora).

Na Praça onde se localizam a Câmara dos Vereadores e a Prefeitura, encontrei um grande rebuliço. Equipamentos de diversão – roda gigante, carrinhos elétricos, brinquedos diversos para crianças, barracas várias – estavam sendo descarregados de grandes carretas e alguns já se encontravam em processo de montagem. Informei-me sobre a movimentação e descobri tratar-se de preparativos para a festa da padroeira da cidade.

Ouvi um barulho de fanfarra na rua próxima e fui conferir. Era um ensaio, ao que tudo indica de alunos de um colégio, provavelmente se preparando para desfilar na abertura da festa.

Foto tirada no dia seguinte.

Destilei lembranças e revivi, emocionado, os ensaios dos quais participava, batendo bumbo, na fanfarra do saudoso Colégio Estadual Castro Alves, de Cornélio Procópio. Primorosos ensaios para os memoráveis desfiles de 7 de setembro naquela cidade norte paranaense, cuja fanfarra do Castro Alves era, na minha época, majestática e eficientemente comandada pelo animadíssimo Professor Antonio do Bomfim. Do seu pai, o respeitabilíssimo Prof. Auxêncio Felix do Bomfim, fui também aluno, no Instituto Procopense de Ensino, onde, durante décadas, o mestre baiano preparou centenas de meninos e meninas para enfrentar o Exame de Admissão ao Ginásio.

Acompanhei o ensaio dos adolescentes de N. Sra. Da Glória, até a escadaria do hotel, onde parei, ofegante de emoção... Destilando as lembranças de meio século e revivendo mentalmente aqueles momentos pretéritos, subi para o apartamento em que estava instalado no terceiro andar e redigi este texto. Estou certo de que antes de dormir vou ainda reprisar na mente e no coração aqueles ensaios e desfiles de fanfarra no Castro Alves. E quiçá sonhar com eles...