domingo, 18 de maio de 2014

Em Vilhena, três décadas depois

Fui participar do 2º Seminário sobre Florestas Plantadas em Rondônia, realizado nos dias 8 e 9 de maio em Vilhena. Desembarquei no acanhado aeroporto da cidade por volta da 14 horas de uma quinta feira, onde fui recepcionado por simpáticas engenheiras florestais da equipe organizadora do evento. Reunidos os outros dois palestrantes que chegaram no mesmo voo que eu, conduziram-nos a um shopping, para almoço. Depois, o motorista levou-nos ao hotel, para um breve descanso.

Eu passara a noite em claro, pois para tomar um voo às 6h13 no aeroporto Antonio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro, saíra às 2h da madrugada, de táxi, da cidade em que moro no interior do Estado. O primeiro trecho aéreo compreendeu Rio-Campinas e embora o voo seguisse para Cuiabá, tive que desembarcar em Viracopos. Perguntei à chefe das comissárias qual era a razão do procedimento e ela me informou que devido ao dilatado tempo da escala era inconveniente manter os passageiros na aeronave. Considerei razoável a explicação e fui circular pelas lotadas salas de embarque e puxadinhos do aeroporto. Percebi então a precariedade das instalações, dos espaços e dos serviços. Cerca de uma hora depois reembarquei no jato brasileiro EMB-195 de 128 lugares, no qual prossegui até Cuiabá. A demorada conexão na capital mato-grossense permitiu-me tomar um lanche, perambular pela praça de alimentação, ver as obras no estacionamento do aeroporto. Obras que estão sendo executadas “a toque de caixa” - situação que se repete em outros aeroportos brasileiros. Uma hora e vinte mais de voo, agora num ATR 72-500, turboélice ítalo-francês de 68 lugares, cheguei àquela simpática cidade da Amazônia onde estivera a última vez fazia mais de 30 anos. Considerando o percurso terrestre, a segmentada viagem consumiu-me 12 horas, tempo correspondente ao de um voo do Rio de Janeiro para Frankfurt, na Alemanha.

A abertura do evento, programada para as 19 horas, começou com mais de duas horas de atraso, num auditório de 800 lugares da Associação Vilhenense de Educação e Cultura – AVEC, uma faculdade local. Compuseram a mesa o governador e um senador do Estado e vários outros políticos, além de representantes de entidades da área florestal. Com cerca de 20 'autoridades' compondo a mesa, a abertura, com muita falação e discursos vários, foi longa. Na continuidade, foram apresentadas duas palestras.

No dia seguinte, “dei meu recado” de manhã, como segundo palestrante; falei sobre Políticas Públicas para Florestas Plantadas. Fiz uma abordagem do tema situando-o no passado, no presente e no futuro e aproveitei para recordar quatro momentos marcantes da minha trajetória profissional vividos em Rondônia. Senti-me honrado em ter como ouvintes o Senador Valdir Raupp – que assistiu toda a palestra - e o governador do Estado, Confúcio Moura, que ouviu parte dela, além dos outros cerca de 500 ouvintes que ocupavam o amplo auditório. Creio ter passado o conteúdo e a mensagem que pretendia.

Estar em Vilhena foi agradável, emocionante e vivificador! Encontrei lá vários conhecidos e alguns amigos com os quais convivi em lugares, momentos e circunstâncias diferentes.


Edgard Menezes estava à frente da organização do evento. Formamo-nos na Universidade Federal do Paraná, na antiga Escola de Florestas; ele, uns poucos anos antes de mim. Edgard é batalhador empedernido; há décadas radicado em Rondônia, continua trabalhando incansavelmente pela causa florestal no estado. Foi ele quem me contatou e fez o convite para eu palestrar no evento. Valeu, Edgard! Além da satisfação profissional, seu convite possibilitou-me rever pessoas que estimo, algumas muito, a começar por você!

Reencontrei um amigo da época do curso ginasial, em Cornélio Procópio, Paraná. Havíamos trocado mensagens numa rede social e combinamos de nos ver. Edelcio Vieira foi ao meu encontro no Seminário e levou-me para almoçar com sua família, numa agradável chácara em que mora, tendo como vizinhos um casal de filhos e respectivas familiares. Destilamos muitas e boas lembranças de parte da nossa adolescência. Passamos em pauta: nossas coleções de gibis do Zorro, do Tarzan e de outros personagens em quadrinhos da época; professores do admissão ao ginásio, de datilografia, do curso ginasial; nossas perambulações em busca das paqueras pela principal praça da cidade nos domingos; os bailes do salão paroquial; os vários amigos de convívio; enfim peripécias várias de nossa adolescência comum. Depois repassamos nossas trajetórias pós-Cornélio. Ele se formou em direito e exerce a advocacia nas áreas pública e privada. Enraizou-se em Vilhena. Tem ainda família em Cornélio Procópio e visita a cidade regularmente, mas não pensa em sair de Rondônia. Valeu, Edelcio! Continuaremos em contato, nas redes sociais!


José Nilton, formado na primeira turma de engenheiros florestais da Universidade Federal Rural de Pernambuco, e primeira da região Nordeste, mora e trabalha em Vilhena. Foi meu aluno de Inventário Florestal e de Manejo Florestal, disciplinas das quais tenho orgulho de ter sido o pioneiro na região. No final do evento, sentamo-nos para resgatar lembranças de professores, de alunos, da instituição e de vários episódios da época; além de repassarmos nossas peripécias depois de deixar Recife.

José de Sá, meu ex-aluno de fase mais recente transportou-me e acompanhou-me nos dois dias. Foi duas vezes meu orientado, na graduação e no mestrado, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Continuamos trabalhando juntos desde então. Seguiu carreira universitária; é professor em Rolim de Moura, no curso de engenharia florestal da Universidade Federal de Rondônia – UNIR.

Encontrei Nayara Dorigon Rodrigues, da terra, minha ex-aluna na graduação em 2008/09. Moça bonita, longilínea, de andar elegante, Nayara fez o mestrado na Rural mesmo e hoje trabalha no SEBRAE de Vilhena. Ainda que em apertado espaço de tempo, recordarmos juntos alguns momentos ruralinos.

Eugênio e Chico, da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental – SEDAM, participaram de um curso concentrado que ministrei em 2010 em Rio Branco no Acre. Estavam no evento e pudemos conversar e relembrar episódios de nossas vidas, pessoais e profissionais.

Revivi, numa viagem de três dias, fatos, circunstâncias e experiências de cerca de cinquenta dos sessenta e três anos de minha existência. Reencontrei amigos e ex-alunos com os quais convivi no período 1964-2014.

No final de 1999, em um seminário em Rio Branco, Acre, alguns colegas impingiram-me o cetro de dinossauro do evento. Na parte da tarde, ao fazer minha palestra, descartei a ‘homenagem’, pois indentificara no almoço um colega formado cinco anos antes. Mas assumi que seria um dinossauro no ano seguinte quando retornasse a Rio Branco e fosse tomar uma cerveja com a “galera” e um ex-aluno apontasse para mim e dissesse: “...ele foi meu professor no século passado”. Em Vilhena, ao reencontrar ex-alunos do século passado e do atual senti-me sim um “dino florestal”. Mas um dino leve, tranquilo, e ainda lúcido, que se prepara para sair do cenário laboral com a consciência do dever cumprido. “Saber envelhecer”, de Cícero, é minha leitura do momento! Buscarei, conforme ensina na obra o Marco Túlio, a virtude da terceira idade, visto que todas têm as suas.

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